A síndrome do fim de ano intensifica emoções, gera estresse e exige cuidados para evitar impactos na saúde mental
A chegada de dezembro é marcada por festas, encontros e um ambiente de celebração. Contudo, para muitas pessoas, o fim do ano também traz reflexões profundas, cobranças internas e sentimentos conflitantes.
Esse fenômeno, popularmente chamado de “dezembrite” ou “síndrome do fim do ano”, é um período de intensas alterações emocionais.
Enquanto algumas pessoas aproveitam a época para comemorar conquistas e reunir familiares, outras enfrentam frustrações, melancolia e ansiedade.
Entendendo a “dezembrite” e seus impactos
A “dezembrite” é um termo não oficial, mas amplamente utilizado para descrever o estado emocional complexo que muitos enfrentam no final do ano.
Ela surge de uma combinação de fatores, como balanços pessoais, sobrecarga social e a pressão por felicidade exibida nas redes sociais. Esses fatores podem provocar tristeza, estresse e até sintomas de depressão em pessoas mais suscetíveis.
O coordenador do Programa de Mudança de Hábitos do Instituto de Psiquiatria da USP (ipqhc.org.br), Arthur Danila, explica que dezembro é um mês em que sentimentos de perda e expectativa podem se intensificar, especialmente em quem já apresenta vulnerabilidades emocionais.
O psiquiatra Lucas Spanemberg, da PUC-RS, destaca ainda que esse período é especialmente desafiador para indivíduos que passaram por lutos, perdas ou traumas ao longo do ano.
A exposição constante ao “lado Instagram” da vida, onde são compartilhadas apenas conquistas e momentos felizes, também pode gerar comparações negativas e sentimentos de inadequação.
Segundo especialistas, a melancolia associada ao fim do ano é transitória para a maioria, mas pode evoluir para quadros depressivos graves se não houver atenção aos sinais de alerta, como insônia, falta de energia e desinteresse por atividades prazerosas.
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Como lidar com os desafios emocionais de dezembro
Apesar das dificuldades, é possível adotar estratégias para atravessar o período de forma mais leve. Reconhecer os próprios limites, desacelerar e priorizar atividades prazerosas são passos importantes. Além disso, especialistas recomendam:
- Exercer a autocompaixão: Aceite que nem sempre tudo sairá como planejado. Valorize suas conquistas e aprenda com os desafios.
- Praticar atividades relaxantes: Exercícios físicos, meditação ou hobbies criativos ajudam a liberar endorfinas e reduzem o estresse.
- Conectar-se com pessoas queridas: Cercar-se de apoio emocional pode ser reconfortante, especialmente para quem se sente isolado.
Em casos de persistência de sintomas ou agravamento, como pensamentos negativos recorrentes, buscar ajuda profissional é fundamental. O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito pelo telefone 188 ou no site cvv.org.br.
Crianças e adolescentes também sentem os efeitos
Embora muitas vezes associado a adultos, o efeito da “dezembrite” também atinge crianças e adolescentes.
Segundo o psiquiatra Rodrigo Bressan, presidente do Instituto Ame Sua Mente (amesuamente.org.br), jovens em fase de desenvolvimento emocional são mais suscetíveis a oscilações de humor e estresse nessa época.
A pandemia de COVID-19 agravou esse cenário, interrompendo interações sociais essenciais para o amadurecimento. Tristeza, irritabilidade e queda no desempenho escolar são sinais que familiares e professores devem observar.
O apoio de adultos na validação dos sentimentos dos jovens e a promoção de um ambiente acolhedor são essenciais para mitigar os efeitos.
Saúde mental no ambiente de trabalho
O fim do ano é especialmente desafiador no ambiente corporativo, onde metas acumuladas e cobranças excessivas elevam os níveis de estresse. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil já liderava o ranking de ansiedade global em 2019.
A pressão no trabalho é um dos fatores que contribuem para esse quadro.
Andréa S. Regina, diretora-executiva do Instituto Ame Sua Mente, reforça a importância de empresas adotarem políticas de saúde mental. “Colaboradores com apoio emocional têm melhor qualidade de vida e, consequentemente, são mais produtivos“, destaca.
Medidas como flexibilização de prazos, espaços de escuta e campanhas internas sobre bem-estar podem fazer a diferença, promovendo um ambiente mais saudável para todos.
Quando buscar ajuda profissional
Nem todo sentimento de tristeza no fim do ano é um sinal de depressão, mas é importante diferenciar o que é transitório do que exige atenção médica.
Segundo Tania Ferraz Alves, do Instituto de Psiquiatria da USP, sintomas como apatia prolongada, perda de interesse por atividades e alterações significativas na rotina podem indicar a necessidade de intervenção.
Manter tratamentos em dia, evitar o uso abusivo de álcool e respeitar os próprios limites são práticas essenciais para evitar crises. Além disso, familiares e amigos têm papel crucial no apoio emocional, oferecendo companhia sem pressionar por participação em atividades que possam causar desconforto.
Brasil lidera índices de transtornos mentais na América Latina
De acordo com a OMS, 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o que equivale a cerca de 11,7 milhões de pessoas.
O país também é o líder em ansiedade na América Latina. Fatores como desigualdade social, desemprego e violência urbana aumentam a vulnerabilidade emocional da população.
A previsão da OMS é alarmante: até 2030, a depressão será a maior causa de perdas relacionadas à saúde globalmente. Esse dado reforça a necessidade de investimentos em políticas públicas voltadas à saúde mental e ao bem-estar da população.
A “dezembrite” é um reflexo das intensas pressões sociais e emocionais enfrentadas no fim do ano.
Reconhecer os desafios, buscar equilíbrio e priorizar o autocuidado são passos fundamentais para atravessar esse período. Além disso, contar com apoio profissional e social é essencial para preservar a saúde mental e começar o novo ano de forma mais saudável e leve.