Saiba como as novas regras do Bolsa Família impactaram as famílias unipessoais. O programa está excluindo milhares de pessoas que ainda precisam de apoio.
O Bolsa Família, programa que atende milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade, tem passado por mudanças desde o retorno de Lula à Presidência em 2023.
Essas mudanças incluem cortes significativos de beneficiários, principalmente entre as famílias unipessoais – aquelas compostas por apenas uma pessoa.
Até fevereiro de 2025, cerca de 980 mil famílias unipessoais foram retiradas do programa, representando uma redução de quase 1 milhão de pessoas.

O que vai mudar no Bolsa Família?
Com a implementação de novos critérios para o programa, as famílias unipessoais enfrentaram dificuldades para manter o benefício.
De acordo com Ana Luíza Câmara, assistente social do Sistema Único de Assistência Social (Suas), a renda limite para essas famílias foi fixada em R$ 218.
Isso significa que, se a pessoa ultrapassar esse valor, mesmo que de forma temporária, ela será excluída do programa. “É fácil sair do critério, mas muito difícil voltar ou acessar outros benefícios”, explica Câmara.
Em 2023, o Bolsa Família contemplava 4,9 milhões de famílias unipessoais. Porém, esse número caiu para 3,9 milhões em fevereiro de 2025, o que representa uma queda considerável no número de beneficiários.
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Limite municipal de famílias unipessoais
Outro fator que contribui para a redução do número de famílias unipessoais no programa é o limite de 16% de beneficiários desse perfil, estabelecido para cada município.
Isso significa que, mesmo que as famílias cumpram os requisitos para receber o benefício, elas podem ser excluídas devido ao teto municipal.
Em cidades maiores, com maior densidade populacional, o limite é rapidamente alcançado, o que resulta na exclusão de muitas famílias que atendem aos critérios.
A Agência Pública revelou que até fevereiro de 2025, 6,1 milhões de famílias unipessoais estavam cadastradas no Cadastro Único.
No entanto, apenas 3,9 milhões dessas famílias receberam o Bolsa Família. A assistente social aponta que 2,2 milhões de famílias unipessoais podem ter sido excluídas devido ao limite de 16% de beneficiários em cada município, o que agrava a situação de muitas pessoas em situação de vulnerabilidade.
Exceções para o limite municipal
O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) afirmou que o limite de 16% de famílias unipessoais aplica-se apenas a novas concessões.
Isso visa corrigir distorções causadas durante o período em que o Auxílio Brasil estava em vigor, no governo anterior.
O MDS também informou que existem exceções ao limite de 16%, como famílias com trabalho infantil, trabalho análogo ao escravo, quilombolas, indígenas, entre outras situações. No entanto, o ministério não soube informar quantas famílias foram impedidas de receber o benefício devido ao limite municipal.
A dificuldade de retorno ao programa
Para as famílias que perderam o benefício do Bolsa Família, o processo de retorno ao programa pode ser um desafio considerável.
O programa tem uma regra de permanência que garante metade do valor do benefício por até dois anos para as famílias que ultrapassam o limite de renda. Se a renda familiar atingir metade de um salário mínimo, o benefício é automaticamente encerrado.
Porém, voltar ao programa após perder o benefício é difícil, especialmente para quem está em uma situação financeira ainda mais precária.
A assistente social Ana Luíza Câmara compartilhou o caso de uma senhora que, após começar a receber auxílio-doença, teve sua renda ultrapassada, o que resultou em sua exclusão do programa. “Ela não conseguia ir trabalhar, e não tinha como gerar renda”, comenta Câmara, ressaltando as dificuldades enfrentadas por essas famílias.
O impacto das novas regras nas grandes cidades
Em cidades maiores, como as grandes metrópoles, a exclusão de famílias unipessoais tem sido ainda mais significativa.
Ana Luíza Câmara destaca que a desigualdade regional no Brasil não tem sido considerada adequadamente nas novas regras do programa.
Para ela, ao implementar uma medida nacional, o governo está ignorando a realidade de cidades com maior concentração de pessoas. Essa falta de análise territorial tem levado a uma maior exclusão de famílias que, de fato, precisam do benefício.